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SUPERAÇÃO
SUPERAÇÃO

Alcoolismo SUPERAÇÃO

 

Por Claudemir Binatti

O Jornal do Povo, parceiro das Associações que se propõe a dar apoio aquelas pessoas que se encontram no vício do alcoolismo, busca através dos depoimentos colhidos junto aos recuperando, chamar a atenção por meio da leitura desta coluna para uma doença que causa destruição de muitas famílias e lares brasileiros.

O nosso personagem é Antônio Rodrigues dos Santos (Fernandópolis), 59 anos, solteiro. Vem de uma família de oito irmãos e há 10 anos é morador do bairro Arroio em Rio Preto. Após 35 anos como alcoólatra, fez o voto de abstinência do álcool na Associação Antialcoólica de Fernandópolis, em 1997. A origem do apelido é em homenagem a esta cidade.

 

REFLEXÃO INICIAL

Fernandópolis, como é carinhosamente chamado pelos recuperando, traz a tona em seu depoimento, o drama vivido pelos alcoólatras. O seu sofrimento e dos familiares, até descobrir que o álcool roubou não só a sua juventude, mas todos os sonhos futuros. “O álcool não dá nada pra ninguém, ele só tira, destrói e afasta você da família, dos amigos. Você só perde o que tem de melhor, a dignidade, a moral, o respeito das pessoas”, testifica.

 

ONDE TUDO COMEÇOU

Nascido em São João das Duas Pontes, onde teve início o seu histórico de alcoolismo que só teria fim 35 anos mais tarde. “Quando comecei a beber era para mostrar que era dono de mim mesmo, não devia satisfações a ninguém, era tímido e não queria a família controlando a minha vida”, conta Fernandópolis.

Estudou as séries iniciais na Escola Municipal Antônio Brandino em Duas Pontes, onde ingressou no álcool. “Por ser tímido, eu queria ganhar coragem para conversar com as meninas, então pulava o muro do ginásio, ia até o bar do meu tio e ali tomava umas doses, passando a falar até demais”, relata os momentos sorrindo.

Segundo Fernandópolis, o seu erro foi achar que teria os pais para sempre. Já havia perdido a mãe aos sete anos, restando só o pai e dois irmãos. Meu pai sempre me aconselhava na tentativa de controlar o meu vício e para não me ver bêbado, jogado pelas ruas, ele trazia bebida em casa e me pedia para tomar só um aperitivo na hora do almoço ou da janta, mas viciado como estava, eu bebia tudo de uma vez e não gostava que me controlassem. “O pai então disse que eu não tinha mais solução”, relembra entristecido.

 

AS COMPLICAÇÕES POR CAUSA DO ÁLCOOL

Ainda em Duas Pontes, “Uma prima me deu um cheque e pediu que fosse até o banco depositar para ela. Mas eu malandro, fui direto para a zona e gastei tudo em bebida, depois inventei que tinham me roubado, mas o delegado não engoliu minha história e me deixou preso por 48 horas. Recebi muitos conselhos dele e passei a responder processo por roubo”, afirma Fernandópolis.

Para sair do vício, ter mais liberdade e mudar de vida, em 1972, pela primeira vez saiu da casa do pai para a Capital. “Lá fui morar com uma tia, para quem qual pagava pensão. Nesse período fiquei oito meses afastado do álcool, bebia leite com groselha para combater o vício. Um dia inventei de tomar uma dose de fogo paulista (espécie de bebida), foi minha recaída no álcool novamente”, recorda.

O pai se casou de novo, e do segundo casamento vieram mais cinco irmãos, entre eles, Hilda, esta cuidaria de Fernandópolis até os dias de hoje, após a morte do pai aos 63 anos, em 1984. Além da Capital, morou 10 anos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Matogrosso. Dessas andanças, o vício era companhia inseparável. “Eu era só, os amigos de trabalho, também bebiam, além de usar outras drogas, das quais cheguei a experimentar, mas não viciei”, explica Fernandópolis.

 

A BUSCA POR AJUDA

A irmã mais velha, Benedita, o levou a um curador na tentativa de livrá-lo do vício. Mas de nada adiantou. Após várias tentativas de largar o vício e ter chegado ao “fundo do poço”, Antônio resolveu assistir á uma reunião na Associação Antialcoólica de Fernandópolis no dia primeiro de novembro de 1997, dia em que deu o voto. “Ouvia falar dessas associações e mesmo não acreditando muito nessas coisas fui lá e com os depoimentos, comecei analisar a minha vida, mesmo desacreditado, resolvi dar meu voto com base em uma frase dita ali naquele dia ‘você é a pessoa mais importante aqui’, decidi provar pra mim mesmo que eu tinha importância. Já vai fazer 14 anos que não bebo mais álcool”, completou emocionado.

 

O APOIO E A PERSISTÊNCIA

Segundo Fernandópolis, depoimentos como os de Osvaldo Silva e João da Caixa, bancários na época e ex-alcoólatras - recuperando da Associação – servia de inspiração para ele levar o voto adiante. “O Dr. Osvaldo me deu muito apoio, ele me levava para reuniões em outras cidades, porque em Fernandópolis elas eram sempre aos sábados, das quais nunca faltei nos três anos que freqüentei aquela Associação”, reforçou.

Após ingressar na Associação e ter abandonado o álcool, os familiares e amigos passaram a admirá-lo. Então veio o primeiro emprego registrado e a oportunidade de ajudar aqueles que lhe estenderam a mão. “Do meu primeiro salário registrado, dei certa quantia para minha irmã pagar as contas da casa. Essa foi a primeira vez que usei o meu salário para algo útil, antes era só para a bebida”, explica

 

O GOLPE

O histórico ao longo dos 35 anos de alcoólatra lhe reservou um AVC (Acidente Vascular Cerebral), em 2010. Após completar três anos de abstinência ao álcool, o incidente dificultou muito sua vida, já que o movimento do lado esquerdo do corpo ficou comprometido. “Eu passei uma vida de cão, fiz terapias e hoje graças a Deus, auxiliado por uma bengala e um apoiador no pé esquerdo consigo andar sozinho aqui por perto. Mas essas dificuldades não é motivo para faltar às reuniões, vou a todas com prazer. Mesmo estando nessa situação eu me sinto mais feliz hoje”. Acrescenta.

 

FATOS ENGRAÇADOS

“Uma vez, já em Fernandópolis, estava bêbado e me deitei debaixo de um jambolão, em uma moita de colonião. Uma professora veio estacionar um fusca debaixo dessa árvore e passou por cima das minhas pernas, sorte que não quebrou...”

“Outra vez sai da roça, peguei o pagamento e fui para zona, gastei tudo em bebida e alcoolizado, com um litro de pinga não consegui chegar em casa. Então me deitei na beira da estrada. E, uma máquina que estava arrumando a estada, veio e me entupiu de terra. Os amigos tiravam o sarro, diziam que só ficou o meu pescoço de fora...”

“Em Minas Gerais, os patrões foram pescar e me deixou cuidando dos filhos. Eu fui até um boteco de beira de estrada e enchi a cara. Não consegui voltar, fiquei deitado na entrada da porteira, já na propriedade e o patrão retornando da pescaria a noite em um carrinho, roda de madeira, não me viu e passou por cima do meu rosto e peito. Eles ficaram assustados, pois quase me mataram. Me socorreram, mas foi só um susto mesmo...”